Por Arthur Esteves via Pipeline.
“Por que a harmonia, que é tão aparente nas formas naturais, não é uma força mais poderosa em nossas formas sociais? Talvez seja porque em nossa fascinação pelos poderes advindos da invenção e da conquista, somos levados a perder de vista o poder dos limites”.
No prefácio do livro O Poder dos Limites, o arquiteto Gyorgi Doczi faz uma provocação importante para a sociedade que se aplica ao contexto atual do mercado de Venture Capital (VC). Vivemos um momento de limites que forçam startups a serem mais conscientes com seu fluxo de caixa para proteger sua sobrevivência. É o que muitos chamam de “inverno”.
Extensão de runway e lay-offs são as recomendações das maiores firmas de VC do mundo para evitar down rounds, reflexo das correções de valuation que grandes empresas de tecnologia sofreram nos últimos meses. A grande questão é: por que agora?
Algumas razões se mostram óbvias, como o avanço da inflação global e o consequente aumento nas taxas de juros e no custo do capital. Depois de anos investindo bilhões em startups de tecnologia, sem inovação e perspectivas de rentabilidade futura, aterrissamos em um cenário onde os frutos dessas iniciativas ainda não estão maduros.
— Foto: American Affairs/Reprodução
A performance de rentabilidade da segunda geração de unicórnios globais (aqueles nascidos após os anos 2000) se mostra muito abaixo da expectativa, especialmente quando comparada com a primeira geração – Apple, Amazon, Google, Microsoft e afins. Como estamos inseridos em um ecossistema financeiro complexo com seus devidos checks and balances, a resposta dos bancos centrais é natural.
Boa parte da baixa performance dessas startups deriva da pouca disrupção que propõem. Desde a internet, não houve nenhuma tecnologia tão disruptiva a ponto de sustentar o valor que muitos gestores de VC previam. Estes se basearam em precedentes de empresas high-tech, mas a realidade é que muitos unicórnios atuais são low-tech (app de delivery, ridesharing, etc).